04 julho 2006

Visitas felinas

Quando os meus pais vão de férias, é costume ficar com o gato deles em minha casa. Nestas ocasiões, a história acontece sempre do mesmo modo: eu abro a caixa da fera com uma vara comprida, espalho os pratinhos de água e comida nos locais onde é menos provável que lhes dê um pontapé, arranjo o caixote da areia e, mal dou por isso, o gato desaparece do mapa. Depois de correr a casa toda, descubro-o habitualmente debaixo da cama e é quase sempre impossível tirá-lo do seu esconderijo. É nestas alturas que me ponho a imaginar como seria receber um amigo tão indelicado quanto este felino. Fazemos o jantar, limpamos minimamente a casa-de-banho para que fique com a ilusão de que vivemos num local asseado e, depois de o deixarmos entrar em nossa casa, damos por ele a correr apressadamente para debaixo da cama. “Ó Júlio, podes sair à vontade, que não corres perigo ! Júlio ! Anda, pequenino !”. Ao que o Júlio diria: “Deixa-me estar aqui um ou dois dias, que eu já saio. Eu estou bem, a sério. Vai à tua vida.” Será que também tentaríamos a nossa sorte, atraindo-o para fora do seu esconderijo com um prato da sua comida preferida ? Ou acabávamos por nos fartar da brincadeira e o enxotávamos com uma vassoura ? Talvez a melhor solução para evitar esta situação incómoda seja não convidar ninguém para jantar que tenha ar de se comportar como um gato. Ou então, convidá-lo dois dias antes do jantar, para que se habitue à casa e não tenha problemas em aparecer à mesa à hora marcada para a refeição.
P.S. É bom esclarecer os leitores (especialmente aqueles que são meus pais) de que eu nunca utilizei o método da vassoura para persuadir o gato em questão a sair debaixo da cama... Até porque ele acaba por se meter noutro esconderijo e volta-se à estaca zero. Pelo menos, foi o que me disseram.