28 abril 2008

Bem-vindo de volta ao mercado de trabalho

Há uns tempos atrás, uma amiga bióloga contou-me que foi fazer uma entrevista para delegada de propaganda médica e que ouviu outra candidata ao emprego dizer ao entrevistador “Desde pequena que eu tenho o bichinho da propaganda médica”. Na altura em que ouvi esta história, achei bastante piada à frase e fiquei a especular como é que uma criança apanha tão particular bichinho. Será pelo contacto com muitos medicamentos? E quais as consequências do contágio? Será que convence os familiares ou os colegas da escola a comprar determinado medicamento, paga pelo farmacêutico?

Actualmente, essa frase não me parece assim tão engraçada. Quer dizer, ela continua a ser engraçada, mas percebo-a melhor. Eu explico. Quando a ouvi pela primeira vez, tinha uma bolsa de doutoramento. Estava abrigado das misérias do mundo, com um ordenado razoável que chegava todos os meses, e a ilusão de que tudo correria bem, depois de terminar o doutoramento. Entretanto, reentrei no maravilhoso mundo do mercado de trabalho, onde recebo mais ou menos três amendoins por cada dia em que me dão o privilégio de poder trabalhar. Assim sendo, também eu sinto que tenho que tenho um bichinho, que está mais ou menos na zona do estômago. Não é o bichinho da propaganda médica, mas é o “bichinho de querer arranjar um emprego decente, a ver se não passo fome”...