09 maio 2008

O problema da literatura

Mal entramos na Cova da Moura, apercebemo-nos imediatamente que o flagelo da literatura tomou conta do bairro. Vemos vários jovens a consumir prosa dentro de um carro, livros usados pelo chão, um graffiti na parede onde se lê "Despenalizem Jorge Luís Borges!" e dois jovens a partilharem o mesmo livro de poesia em plena via pública. Falamos com um pai preocupado, que nos diz: “Os jovens do bairro só vivem para consumir literatura. Podiam dedicar-se à família, aos amigos, ao desporto, à música... Mas não. Estoiram o dinheiro todo em livros, que são caríssimos, e passam os dias alheados do mundo real, perdidos nas fantasias de escritores”.

Mas como é que a literatura chegou à Cova da Moura? Segundo alguns residentes, tudo terá começado com a introdução ilícita de livros do Harry Potter em algumas das áreas mais problemáticas do bairro. Depois, vieram obras de autores Sul-Americanos como Garcia Marquez e Isabel Allende e, a partir daí, o consumo de literatura nunca mais parou de crescer. Um investigador da Direcção do Combate ao Banditismo da PJ, que prefere manter o anonimato, confirma que este padrão é habitual: “O jovem é iniciado em livros infanto-juvenis pelos amigos, depois passa a consumir livros cada vez mais pesados e, quando dá por ela, já está a ler clássicos Russos como Dostoiesvky e Tolstoi. E, nessa altura, já é difícil libertar-se do vício da leitura”.

No decorrer da nossa visita ao bairro, vemos um intelectual enfezado a comprar poesia de Fernando Pessoa para levar para uma “rave party”. Conseguimos abordar o traficante, que nos diz: “A poesia nacional vende bem, mas o que vende melhor aqui no bairro é a prosa de Pepetela e de Mia Couto”. De facto, Portugal está na rota de tráfico da literatura Africana devido à sua posição geográfica e vasta zona costeira, sendo considerada uma das principais portas de entrada desta literatura para o resto da Europa. No entanto, os casos mais graves de dependência ocorrem com o consumo de Existencialistas como Sartre, Jaspers e Heidegger. Na opinião de um dos psicólogos que trabalha na Cova da Moura, "o Existencialismo é uma corrente literária muito dura, que vicia logo após o primeiro livro. É muito difícil a um literaturo-dependente livrar-se do Existencialismo. Em leitores que consomem Idealistas, Realistas e Modernistas, a recuperação é mais fácil”.

Por último, é importante referir que o consumo tem crescido drasticamente nos últimos anos, apesar das medidas tomadas pelo Governo. Então, o que é que deve ser feito? De acordo com o presidente do Instituto do Combate à Literatura, "falta um debate mais sério sobre este problema, porque prevalece uma certa tolerância à literatura, que boicota qualquer possibilidade de se chegar a uma solução definitiva". Sejam quais forem as medidas a tomar, uma coisa é certa: elas têm de começar o mais rapidamente possível, para que o problema da literatura não se torne ainda mais grave...

2 Comments:

Blogger Cassandra said...

Fico feliz por saber que estou categorizada como "dependende de recuperação fácil":). Muito, muito divertido.

8:25 da tarde  
Blogger Bruno Miguel Pinto said...

Cassandra,a literatura é um vício terrível. Mesmo que sejas uma dependente de recuperação fácil, talvez valha a pena procurares ajuda. Boa sorte!

11:08 da manhã  

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