24 maio 2008

Três civilizações perdidas

(Inspirado em “As viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift)

1.Os Drurr, ou “Povo dos Ovos Estrelados”, desapareceram há mais de 500 anos da Mongólia. Segundo os relatos dos escritores chineses dessa época, a história do seu desaparecimento terá começado quando Sua Alteza Real Blefuscu III sofreu graves queimaduras de óleo enquanto cozinhava ovos estrelados, o prato tradicional dos Drurr. Em virtude disso, o Rei terá decretado que nenhum dos seus súbditos podia estrelar ovos, o que provocou revoltas nos sectores mais conservadores deste povo. Os Drurr desapareceram quase sem deixar rasto, depois de uma guerra longa entre a “facção dos ovos mexidos” leal ao Rei, e a “facção dos ovos estrelados” dos revoltosos.

2.Os Nanooks eram uma grande tribo de esquimós de uma zona remota do Canadá, que só tomou contacto com a cultura Norte-Americana nos finais dos anos 70. O seu fascínio por esta cultura tornou-se tão grande que trocaram o seu dialecto esquimó pelo inglês, passando a usar esculturas em gelo dos ícones da música americana como Jimi Hendrix, Bob Dylan e Bruce Springsteen para assinalar os limites do seu território. Os Nanooks entraram em declínio quando começaram a trocar ao desbarato todos os seus stocks de peixe e carne de foca por cassetes de vídeo da série televisiva “Dallas”. O golpe final deu-se quando o negociante responsável por este declínio conseguiu trocar um projector de cinema, uma tela e cópias da primeira trilogia da “Guerra das Estrelas” por todos os seus barcos de pesca.

3. Pouco se sabe sobre os Pnong, que desapareceram das margens do lago Tonlé Sap, situado no actual Cambodja, há mais de 300 anos. Os Pnong sofreram uma devastadora epidemia, que começou alguns dias depois de contactarem com um grupo de exploradores franceses. De acordo com os historiadores, o chefe dos Pnong ainda terá enviado um mensageiro com algumas oferendas em ouro e um pedido de auxílio à comunidade de franceses que vivia mais a sul. No entanto, este mensageiro nunca chegou a essa comunidade, optando por viajar por todo o Mundo, usando o ouro destinado a salvar o seu povo moribundo. Eis um excerto do início do seu diário de viagem, encontrado recentemente por monges budistas tailandeses: “Começo este diário por informar o leitor de que este é um registo das viagens fora da minha terra natal, mas que não é minha intenção focar-me sobre a minha tentativa de pedir auxílio aos franceses, que considero como um objectivo secundário. (...) A minha ideia é de condensar as transformações que eu sei que irão acontecer em mim, ao contactar com um Mundo que não conheço. (...) Passei algumas das horas mais felizes da minha adolescência a ler sobre as viagens que outros fizeram. Sinto que chegou o momento de ver com os meus olhos e de escrever com as minhas palavras, esperando assim aliciar outros aventureiros a descobrirem o prazer de viajar.”