19 junho 2008

No Canadá

É véspera do Thanksgiving e, por isso, só consigo alugar uma pick-up Ford monstruosa, que ainda por cima tem umas mudanças esquisitas. Tenho vinte e quatro horas para explorar um pouco do norte da Nova Escócia, porque o dinheiro não dá para mais e porque o voo para Montreal é amanhã ao fim da tarde. Saio de Halifax antes da hora de ponta, fujo aos arredores da cidade e conduzo numa estrada à beira-mar. Que bela paisagem, a floresta boreal com aqueles tons entre o vermelho e o amarelo do lado esquerdo e o mar semeado de dezenas de pequenas ilhas do lado direito. Vou parando pelo caminho, para deixar a paisagem e a luz do entardecer infiltrarem-se em mim, para tirar fotografias, para comer qualquer coisa, peço direcções num lar de terceira idade, onde os idosos metem conversa. Quando anoitece, sigo por estradas secundárias e encontro um lugar para dormir, próximo de uma casa isolada. Vou até lá, assusto inadvertidamente uma senhora que não está à espera de uma visita com sotaque esquisito às dez da noite e que me diz que não há problema de dormir ali. Saio ao nascer do sol, paro para ver uma doninha fedorenta branca e preta, morta na berma da estrada e que está praticamente congelada do frio da noite, visito um local onde desembarcaram centenas de Escoceses para colonizarem aquela área, assisto a um jogo de basebol entre adolescentes, visito o mercado de rua de Truro, onde um rapaz de gorro toca na guitarra algumas músicas que eu também sei tocar, vou até um parque lindíssimo onde casais passeiam os seus filhos. Já passa da hora de almoço, apresso-me no caminho de volta a Halifax, entrego a pick-up no aeroporto, lavo-me e mudo de roupa na casa-de-banho e entro no avião, cansado mas feliz...