13 setembro 2006

Uma rapariga modesta

“Eu estava muito bem a tomar o pequeno-almoço na varanda- a propósito, não sei se já te disse que a minha casa tem uma vista espantosa sobre o Tejo- quando aparece o meu pai, que é professor universitário na faculdade de letras. E digo-lhe eu, “ó pai, adorei o livro que me emprestou do Italo Calvino.” Já o tinha lido em português, mas não há nada como ler na língua original. E eu adoro italiano. Já te disse que sou bilingue ? Quando escrevo poesia, ora opto pelo português, ora pelo sueco. Claro que é difícil mostrar os meus poemas todos a alguém por causa disto... Por acaso, quando é prosa, escrevo sempre em português, não sei bem porquê. Sabes que já me pediram muitas vezes para fazer traduções de livros suecos, só que eu acho que é uma grande responsabilidade e exige muito tempo. É que, para além da faculdade, estou a fazer um curso de cinema em horário pós-laboral. O curso está mesmo no fim, mas como me escolheram a mim para realizar uma curta metragem- de entre 56 alunos-vou ter muito trabalho nos próximos meses. Estive mesmo para recusar, mas o projecto era demasiado interessante para o poder fazer. De qualquer modo, não queria deixar a pintura. Pinto desde os 10 anos e sei perfeitamente que, se puser os pincéis de lado durante uns meses, não vou conseguir acabar a exposição que tenho de preparar até ao fim deste ano. O tema desta exposição sou eu... Engraçado, não é ?"