03 setembro 2008

Dádiva de sangue

Ontem de manhã, acordei com a sensação de ter demasiado sangue a correr-me nas veias e, por isso, fui partilhar algum do meu precioso líquido azul (o meu tio é o “Rei dos Frangos” de Xabregas) com outras pessoas que também precisam dele. Tal como é habitual, pediram-me que preenchesse um inquérito e que falasse com um médico, antes de decidirem se me concediam o privilégio de me espetar uma agulha do tamanho da torre Eiffel no braço, através da qual me extrairiam cerca de meio litro de sangue...

Por muita consideração que tenha pelos profissionais do Instituto Português de Sangue, moderna raça de vampiros que solicitam sangue por sms e que resistem à luz do sol e a crucifixos, algumas das suas perguntas parecem-me um bocado estranhas. Por exemplo, não percebo porque me perguntaram “Nos últimos seis meses, teve novo (a) parceiro (a) sexual?”. Será que a qualidade do sangue diminui drasticamente quando temos um novo parceiro sexual e que, ao sétimo mês da relação, volta tudo ao normal? Outra pergunta cuja intenção não percebi foi “Alguma vez teve contactos sexuais homossexuais ou com prostitutas?”. Nunca ouvi falar de uma incompatibilidade sanguínea entre sangue homossexual e sangue heterossexual. O que é acontecerá quando os dois se encontram no mesmo corpo, uma embolia ou coisa do género? E se for sangue bissexual, existe o mesmo problema? E o que acontece quando recebemos sangue de um homem que teve relações sexuais com uma prostituta, também ficamos com vontade de "sexo ilegal"?
Enfim, o sangue tem muito que se lhe diga e é natural que um leigo como eu não perceba onde eles querem chegar. Na minha ignorância, estava convencido que, se o sangue é analisado para despistar todas as doenças possíveis e imaginárias, não importava se é de alguém que tem um novo parceiro sexual há menos de seis meses, que teve ou tem relações homossexuais ou que teve ou tem sexo com prostitutas... Mas mesmo que importe, talvez valha a pena ponderar sobre a existência de um conceito relativamente novo que se designa por "mentir". É que, parecendo que não, pode acontecer que os candidatos a dadores o apliquem...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Realmente, não vale a pena fustigarem os pobres futuros dadores com perguntas ineptas. É que se no final terão de fazer a análise... Ou será que não fazem?

BC.

7:50 da tarde  
Blogger Patrícia T. said...

Adorei o facto de teres sangue azul por causa do teu tio ser o "Rei dos Frangos" de Xabregas, eh, eh!

Agora falando de coisas sérias... Acho louvável a tua atitude altruísta. Eu confesso que ainda não arranjei coragem, embora não tenha medo de agulhas, mas como já quase desmaei uma vez que fui fazer análises (e a sensação não é nada agradável, parece que nos estão a desligar os botões todos :P), "Gato escaldado de água fria tem medo"...

Em relação ao questionário do IPS, eles bem que podiam resumir essas perguntas todas a uma só: "usa protecção quando tem relações sexuais?" Era uma pergunta mais objectiva do que a pergunta - preconceituosa, diga-se de passagem - "Alguma vez teve contactos sexuais homossexuais ou com prostitutas?”. Hoje em dia, já não se pode dizer que existam grupos de risco (homossexuais, prostitutas, drogados), até porque o número de heterossexuais infectados com HIV está a aumentar.

Quanto à pergunta "Nos últimos seis meses, teve novo (a) parceiro (a) sexual?", mais uma vez tem a ver com a possibilidade de a pessoa ter sido infectada com HIV (há um período "janela" e só ao fim de 6 meses, depois de uma relação não protegida, se pode ter garantias no resultado de um teste de HIV).

Espero, sinceramente, que eles façam análises ao sangue doado para despitar doenças infecciosas, porque existe sempre a hipótese de as pessoas não serem sinceras ou, pior do que isso, ignorarem o seu real estado de saúde. A maior parte dos adultos que conheço nunca fez um teste de HIV, embora tenha tido vários parceiros e muitas das vezes não tenha usado protecção. Isso para mim é que é grave. Eu já fiz o teste e acho que toda a gente devia fazer (aliás, não sei até se não deveria ser "obrigatório"). Não devemos brincar com a nossa saúde nem com a dos outros, digo eu...

10:09 da tarde  
Blogger Cassandra said...

Sim, nós podemos mentir. Mas também podemos descobrir, se o sangue for devidamente analisado, que alguém nos andou a mentir... and that's not good.

10:28 da manhã  
Blogger Bruno Miguel Pinto said...

Eu não tenho nada contra a maioria das perguntas que o IPS faz antes de aceitar uma dádiva de sangue. Mas há duas ou três que me parecem preconceituosas e sem grande sentido. De qualquer modo, se eles têm de fazer análises ao sangue (e eu estou convencido que as fazem), porque fazem estas perguntas? De qualquer modo, e dando a mão à palmatória, se realmente existe um período janela de 6 meses até haver certeza do teste HIV, então a primeira pergunta faz algum sentido. Se bem que as pessoas podem sempre mentir...

12:23 da tarde  

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