29 janeiro 2009

Mudanças

Pensava que a vida das pessoas que conheço em viagem e de que nunca mais tenho notícia ficariam para sempre estáticas, existindo apenas num recanto perdido da minha mente. Afinal, parece que não é bem assim...

1) Ela era uma jovem enfermeira japonesa bem-disposta, que se tinha despedido do seu emprego estável para viajar e aprender inglês no Canadá durante seis meses. Conheci-a na Prince Edward Island, por estarmos alojados no mesmo sítio, e depois de alguns dias, percebi que também precisava daquele tempo de peregrinação para esquecer o ex-namorado, de quem se tinha separado recentemente. Disse-me, também, que dificilmente encontraria alguém, que era pouco provável que se voltasse a apaixonar. Depois de nos despedirmos, há cerca de dois anos, nunca mais ouvi falar dela. Descobriu-me recentemente no "Facebook" e contou-me que tinha conhecido um Canadiano com quem se tinha casado, que se tinha mudado definitivamente para o Canadá e que já tinha um filho com quase um ano. Ela, que provavelmente iria ficar solteira para sempre!

2) Quando a conheci há cerca de um ano em Porto Alegre (sul do Brasil), estava a estudar Marketing e Publicidade e trabalhava em part-time como secretária, para ajudar a sua mãe divorciada a pagar as contas. Pensava em arranjar uma casa perto da mãe, um emprego e em casar com o seu namorado de longa duração. Pouco tempo depois de ter regressado a Portugal, soube que se tinha separado. Ontem, disse-me que se tinha mudado para São Paulo, para concluir o seu último ano de faculdade. Gostei, sobretudo, do modo como disse: "Mãe esta é a hora", esperando que a mãe aceitasse bem a sua decisão de a deixar sozinha, e como a mãe respondeu:" Então, boa sorte". E eu convencido de que ela era uma rapariga pacata, que queria apenas uma vida simples, na sua cidade-natal.

Depois destes dois exemplos, sinto-me tentado a concluir que estes seres que se cruzam acidentalmente connosco em viagem, têm (aparentemente) uma vida própria. Atrevem-se, mesmo, a mudar grande parte das suas vidas e chegam a acusar-nos do mesmo pecado mortal da mudança, quando lhes contamos as nossas novidades. Esses, que deviam permanecer para sempre quietos, cristalizados no tempo...

27 janeiro 2009

Os noivos quezilentos

(Noivos discutem futura cerimónia de casamento à porta da igreja onde vão casar)

Noiva: (...) Epá, desculpa lá... Se insistes em fazer o copo de água nesse restaurantezinho de meia-tigela...

Noivo: De meia tigela, não. É o restaurante do meu tio, portanto, merda para ti!

Noiva: Estou-me a borrifar de quem é o restaurante. É uma porcaria de restaurante e tu é que podes ir à merda, ó saloio...

Noivo: Olha, princesinha, se não queres fazer o copo de água nesse restaurante, não há copo de água. Agora, é contigo! Estou farto desta porra toda, caraças!

Noiva: Se não há copo de água, podes dizer adeus ao casamento, meu grande parvalhão! Agora, é contigo!

Noivo: Ok, desistimos do restaurante do meu tio e vamos comer aonde tu quiseres. Mas também te digo uma coisa: se voltas a falar da banda de música ao vivo, mando-te enfiá-la no...

Noiva: (ofendida) Amor! Já estás a ser bruto comigo...

Noivo: (doce) Desculpa, minha querida, se calhar fui longe demais... Sabes que não faço por mal. Entusiasmo-me, começo a falar e descontrolo-me...

Noiva: Sim, eu sei, fofinho.

Noivo: Desculpa, minha delícia de ananás. Mil desculpas... Posso dar-te um beijinho?

Noiva: Podes... Mas tens de ter cuidado, para a próxima...

Noivo: Sim, tens razão. Eu prometo que vou ter cuidado.

(Noivo beija ternamente a Noiva)

Noivo: Amo-te muito, minha querida...

Noiva: Eu também, meu amor... E tenho a certeza que o nosso casamento vai correr bem, desde que não façamos o copo de água no restaurante do seboso do teu tio... E a banda de música é como eu disse e acabou a conversa!

Noivo: Ai, o caraças! Já voltámos ao mesmo? Então, onde é que queres fazer o copo de água? Onde? Diz lá, ó presunçosa!

(...)

22 janeiro 2009

Redescobrindo os ABBA

Ouvir os ABBA desperta todo o meu saudosismo em relação à infância. É essa a banda sonora daquelas longas viagens até às terras longínquas da Beira Baixa, no Fiat 127 vermelho dos meus pais, com o intuito de visitar os meus avós. Este Natal, ofereci o CD "ABBA Gold" aos meus pais, que tenho ouvido nestas últimas semanas. Para além das recordações que referi, oiço também aquelas coisas que as crianças não percebem: por exemplo, "The winner takes it all" e "Knowing you, knowing me" parecem ser sobre um divórcio, "Take a chance on me", um prelúdio de uma relação em que nenhum dos dois intervenientes tem certezas, "Voulez-vous", sobre encontros sexuais esporádicos, etc. Isto tudo para dizer que, vinte e cinco anos depois de ter levado com eles até à exaustão, oiço actualmente os velhos ABBA por minha iniciativa, satisfeito pela redescoberta...

08 janeiro 2009

A guerra na faixa de Gaza

Durante o ano que passei em Inglaterra a fazer mestrado, desenvolvi uma amizade bastante forte com um israelita chamado Gil. Apesar de ter regressado a Portugal em 2001, já nos encontrámos várias vezes desde essa altura e falamos com alguma regularidade ao telefone.
Assim sendo, e apesar de continuar a não concordar com alguns dos acontecimentos históricos que caracterizam aquela parte do mundo, consigo perceber bastante melhor o ponto de vista israelita devido ao contacto regular com o Gil. Mais do que isso, a situação naquela região do mundo tem agora contornos pessoais, é algo que afecta a vida do meu amigo e, consequentemente, me afecta (em pequena medida) a mim.
Tudo isto para explicar que, quando vejo na televisão aquelas imagens dos militares israelitas a avançarem pela faixa de Gaza e os milhares de refugiados Palestinianos a fugirem da guerra, tenho de relativizar e pensar que existem sempre dois lados para este conflito. E depois falo ao telefone com o Gil, oiço a versão dele e verifico que sim. É certo que os israelitas estão actualmente a usar uma força bélica de forma desmesurada, mas tanto as notícias como o Gil me informam que os israelitas sofrem desde há muito tempo os ataques dos chamados "foguetes", lançados constantemente pelos Palestinianos das cidades fronteiriças para Israel. Isto para além dos habituais ataques suicidas. E por muito que pense que a criação do estado de Israel foi um erro histórico, isso não justifica todos os meios terroristas que são usados pelos Palestinianos e outros povos Árabes contra os israelistas. Enfim, a história de Israel e da Palestina não é maniqueísta, pintada de branco e preto, feita de bons e maus. É, antes, uma história com culpados e inocentes de ambos os lados, em que é difícil perceber quem tem mais ou menos razão. A única coisa que posso esperar é que a guerra termine rapidamente e que as negociações internacionais de paz cheguem a algum lado...