30 abril 2008

O que os astros dizem

O meu horóscopo desta semana diz-me que devo aceitar convites. E eu estou disposto, realmente, a aceitar todos os convites cuja formulação não inclua palavrões ou insultos. Especialmente se as pessoas que os fizerem forem do sexo feminino. E sejam interessantes. E giras. E não tenham mais de cento e cinquenta quilos...

28 abril 2008

Bem-vindo de volta ao mercado de trabalho

Há uns tempos atrás, uma amiga bióloga contou-me que foi fazer uma entrevista para delegada de propaganda médica e que ouviu outra candidata ao emprego dizer ao entrevistador “Desde pequena que eu tenho o bichinho da propaganda médica”. Na altura em que ouvi esta história, achei bastante piada à frase e fiquei a especular como é que uma criança apanha tão particular bichinho. Será pelo contacto com muitos medicamentos? E quais as consequências do contágio? Será que convence os familiares ou os colegas da escola a comprar determinado medicamento, paga pelo farmacêutico?

Actualmente, essa frase não me parece assim tão engraçada. Quer dizer, ela continua a ser engraçada, mas percebo-a melhor. Eu explico. Quando a ouvi pela primeira vez, tinha uma bolsa de doutoramento. Estava abrigado das misérias do mundo, com um ordenado razoável que chegava todos os meses, e a ilusão de que tudo correria bem, depois de terminar o doutoramento. Entretanto, reentrei no maravilhoso mundo do mercado de trabalho, onde recebo mais ou menos três amendoins por cada dia em que me dão o privilégio de poder trabalhar. Assim sendo, também eu sinto que tenho que tenho um bichinho, que está mais ou menos na zona do estômago. Não é o bichinho da propaganda médica, mas é o “bichinho de querer arranjar um emprego decente, a ver se não passo fome”...

26 abril 2008

Defeito de fabrico

Se a política é um jogo, então alguém que se esqueceu de instalar “Game over” na consola de Pedro Santana Lopes.

Novos factos sobre o 25 de Abril

Recentes investigações de historiadores e musicólogos revelaram que os músicos Portugueses tiveram um papel importante na Revolução de 25 de Abril de 1974. Respondendo a uma solicitação dos militares revoltosos, Paulo de Carvalho e Zeca Afonso, juntamente com a Câmara Municipal de Grândola, fizeram uma “vaquinha” para pagar o combustível dos veículos militares que invadiram Lisboa na madrugada desse dia, sob a condição de que as músicas “E depois do adeus” e “Grândola, Vila Morena” se tornassem simbólicas da Revolução.

14 abril 2008

Em busca da gata perdida

Apesar de não podermos voltar atrás no tempo, podemos sempre retomar algumas das actividades que nos davam prazer no passado. Seguindo esta linha de raciocínio, resolvi acompanhar os meus pais até à sua pequena quinta no Ribatejo, para passar dois dias no campo, enquanto fazia um trabalho voluntário com aves nessa região. Depois de um fim-de-semana de trabalho árduo (quem corre por gosto sempre se cansa um bocado...), foi com agrado que vi chegar as quatro da tarde de domingo, hora que marcava o início dos preparativos do nosso regresso a casa.

Eram, então, quatro da tarde quando dei com a gata siamesa dos meus pais presa na sua caixa, a miar insistentemente pela liberdade. Abri-lhe a porta, comovido, ignorando as técnicas manipuladoras do felino. A minha mãe ainda gritou “Nãaaaaaoooooo!”, correndo em câmara lenta para ela, na vã esperança de a apanhar, mas ela foi mais rápida, deixando apenas meia dúzia de pêlos atrás de si. Foi só quando vi a minha mãe a revirar a casa de uma ponta à outra que me apercebi do que tinha feito. Ao que parece, esta gata temperamental não gosta de viajar de carro, tendo por hábito esconder-se quando vê as malas a serem arrumadas, antes do famigerado regresso a casa. (Ou seja, o animal é irracional, mas não é nada parvo...). Para evitar horas infindáveis em busca dela, os meus pais têm por hábito encerrá-la na jaula, antes de começarem a arrumar as coisas.

Apercebendo-me, então, do meu erro crasso, lá fui oferecer os meus préstimos à minha mãe, uma verdadeira especialista na arte de encontrar uma gata que não quer ser encontrada. A técnica de busca e salvamento, apurada ao longo de muitos domingos de angústia, consiste em passar a pente fino uma divisão da casa de cada vez, fechando a porta dessa divisão de modo a garantir que essa Houdini peluda não possa mudar de esconderijo. Só que a porta da rua tinha estado aberta logo depois do seu desaparecimento, o que significava que ela poderia estar em cerca de 234 576 de sítios da pequena-grande quinta. Procurámos por todo o lado, dentro e fora de casa. Olhámos para dentro de poços, para o cimo de árvores, para as mandíbulas dos cães das redondezas. Chamámos o nome dela, usando todas as entoações possíveis. Oferecemos comida, água, imitámos ratos e passarinhos feridos. Nada. Ela não aparecia. O meu pai sugeriu sairmos com o carro, para que ela pensasse que nós nos tínhamos ido embora e saísse do seu esconderijo. Eu pensei que ele estivesse a gozar, mas esta manobra já tinha dado frutos no passado. Portanto, lá fomos dar uma volta ao quarteirão de carro, enquanto a minha mãe esperava que a gata aparecesse. Só que o bicho já não se deixa enganar e, quando voltámos, continuava a monte. Sentei-me no sofá e liguei a televisão, cansado do trabalho e desta busca infrutífera. Pensei que teria de me levantar cedo no dia seguinte e perguntei-me quando é que a Princesinha decidiria terminar este jogo das escondidas. Passado pouco tempo, ela apareceu finalmente, com ar de sono, a espreguiçar-se e a miar pelo jantar. Eu fiquei radiante por saber que as nossas vozes chamando desesperadamente o seu nome não a tinha impedido de dormir uma boa sesta. Ainda disse aos meus pais que arroz de gato é parecido com arroz de coelho, mas eles limitaram-se a repreendê-la com um “Ai, ai, ai, sua marota!”.

Ai, ai, ai, sua marota? Então esse bicho possuído pelo Demónio faz-nos perder horas e horas e só recebe isso? Então e o puxão de orelhas? E o castigo? Isto, no meu tempo, não era assim...

09 abril 2008

Resumo da discussão na RTP

Governo: Meus amigos, Portugal está atrasado cerca de setenta e cinco anos em relação à Espanha. Temos de começar a fazer esta terceira ponte sobre o Tejo depois de amanhã ou, quando muito, no fim da próxima semana. Houve um período de reflexão sobre a localização desta nova ponte, que nos esforçámos para que passasse despercebido, e agora chegou a altura de impormos a nossa vontade. Se toda a gente estrebuchar muito, como aconteceu com o novo aeroporto, nós ainda pensamos melhor no assunto. Caso contrário, a localização da nova ponte, que é completamente irreversível, é... esperem aí, que eu tenho de ver nos meus apontamentos, a ligação Barreiro- Algés... não... Barreiro-Chelas! Barreiro-Chelas, assim é que é!

Oposição: Epá, tenham lá calma, que isto é uma coisa cara. Pensem bem nisso, que é para depois não cometerem erros ou terem de voltar atrás nas decisões.

Governo: Senhor Deputado, eu posso dar-lhe dezoito exemplos de membros de anteriores Governos do PSD que defenderam a travessia da ponte em... onde é que é isto? Ah, sim... no Barreiro–Chelas. E a propósito, depois desta ponte estar construída, até vamos poupar dinheiro, porque os doentes da margem sul vão passar a vir de ambulância para os hospitais de Lisboa. Aliás, até estamos a pensar mandá-los de TGV, para ser mais rápido do que de ambulância...

Oposição: E não existem outras prioridades para o país?

Governo: Não vale a pena estar com fitas, que isto já não volta atrás. Esta ponte vai relançar a nossa economia, o desemprego vai desaparecer completamente e talvez ainda nos tornemos um dos maiores produtores de petróleo do Mundo.

Deputado do PSD: Como?

Governo: Imagine, por exemplo, que enquanto estamos a construir as fundações da ponte, damos de caras com dezenas de poços de petróleo no fundo do rio... Pode acontecer!

Ambientalista: Eu vou dizer à União Europeia que vocês querem construir uma terceira ponte sobre o Tejo e nem sequer fizeram um estudo de impacto ambiental!

Governo: Então, vá lá fazer queixinhas, a ver se eu me importo... Se a União Europeia não nos der o dinheiro, pedimos aos Portugueses.

Ambientalista: Mas o ar vai ficar mais poluído e nós vamos contribuir para o aquecimento global do Planeta.

Governo: Com a força que a nossa economia vai ganhar, até vamos poder comprar ar limpo a outros países. E se o país ficar quente demais, não faz mal, compramos outro mais frio. A economia Portuguesa vai ser do caraças!

Paisagista: Estes engenheiros, sem qualquer sensibilidade estética, vão estragar a magnífica paisagem do Estuário do Tejo com esta porcaria desta ponte.

Engenheiro principal: Qual paisagem, qual carapuça! O que é que você faz com uma paisagem? Consegue comer uma paisagem? Consegue passar por cima de um rio com uma paisagem?

Paisagista: Mas as paisagens são bonitas e vocês não lhes ligam nenhuma!

Engenheiro principal: E esta nova ponte não é bonita? Já viu bem o vão que esta ponte vai ter? E o tamanho dos tabuleiros? Uma rodo-ferroviária de 6.7 quilómetros, com quatro linhas de ferrovia? É o meu bebé! A pequerruchinha do papá. A minha número cento e sessenta e quatro!