27 agosto 2006

Consulta com médium-curandeiro

(Professor Karamba fala com Pimenta no seu consultório no hospital de Santa Maria)
Karamba: Então, o que é que se passa, senhor Pimenta ?
Pimenta: O que se passa, senhor professor, é que eu tenho um supermercado em Arruda dos Vinhos e há dois ou três meses atrás, uma das minhas clientes a quem não quis fazer fiado disse-me que eu iria sofrer muito. Como comecei a ter umas dores fortes nas costas e nas pernas, fui ao centro de saúde de Arruda, onde fui visto por um Pai-de-Santo. Ele disse-me que o caso era grave e que o melhor era eu ser visto aqui em Santa Maria.
Karamba: E consultou mais alguém ?
Pimenta: (um pouco envergonhado) Bem... por acaso, houve uma vizinha minha que me falou de um médico-neurocirurgião com fama de curar as pessoas. Eu não acredito muito nessas coisas da medicina, mas como tinha umas dores que mal conseguia andar, lá marquei uma consulta...

Karamba: Pois, amigo. Como deve saber, esses médicos são uns charlatões... Não têm o dom de cura nem um conhecimento do medianismo que lhes permita ajudar realmente as pessoas. Então e o que é que ele lhe fez...?
Pimenta: Meteu-me dentro de uma máquina grande onde me deitei durante uns dez minutos e fez-me um exame chamado TAC.
Karamba: Que parvoíce ! O que você precisa é de fazer um oráculo de conchas ou um horóscopo, para se perceber como está o seu alinhamento cósmico...
Pimenta: Num fim da consulta, disse-me que eu tinha uma hérnia discal.

Karamba: Hérnia discal ? Esses gajos inventam cada uma... Meu amigo, o que você deve ter é um mau-olhado. Estou a passar-lhe aqui uma credencial para fazer uns exames com o curandeiro Mururu, que é um especialista em casos de mau-olhado, de modo a podermos fazer um diagnóstico mais preciso.

Pimenta: E esses exames vão demorar muito ?

Karamba: Em princípio, demoram menos de uma semana. Entretanto, vai comprar uma galinha branca aqui na farmácia do hospital, corta-lhe o pescoço com uma faca e espalha o sangue ainda quente nas zonas onde sente dor. E depois, quando tiver os exames, marca uma consulta e logo vemos do que se trata...
Pimenta: Está bem, professor... Muito obrigado...

Karamba: Olhe, e se quer um conselho, largue a medicina, que isso são tudo uma cambada de aldrabões...

Pimenta: Sim, tem razão, professor. Até breve.
(Pimenta levanta-se e sai)

23 agosto 2006

Disco de ouro no Espaço

Em 1977, Carl Sagan foi responsável pela selecção do conteúdo de um disco de ouro enviado na sonda Voyager, contendo sons e imagens que representam a diversidade da vida e cultura na Terra. Esta sonda, que saiu este ano do nosso Sistema Solar, demorará cerca de 40000 anos a chegar à estrela mais próxima, portanto, o melhor é não ficarmos na expectativa do que vai acontecer e seguirmos a nossa vida...

Quando estou muito aborrecido (por exemplo, nas ocasiões em que os meus amigos falam sobre os seus problemas) e já fiz a lista mental de compras para essa semana, fico a pensar no que incluiria nesse disco de ouro. Apesar de ainda não ter chegado a uma conclusão, estou certo de que não optaria pelos excertos de música de várias culturas e pela saudação em cinquenta e cinco línguas diferentes (a propósito, o português também está incluído e é um simples “´tá-se ?”). Em vez disso, tentaria representar o homem comum no seu dia-a-dia, lendo por exemplo “graffitis” memoráveis como “Vota APU” ou “Ó Bush, tira os cascos da Europa !”. Por outro lado, se a ideia é atrair outras civilizações, acho que o disco deveria ter alguns trechos de música pimba portuguesa. Toda a gente gosta de ver desgraças ao vivo e os extraterrestres não serão excepção. Por fim, acho que teria incluido o som de um bebé a chorar, para garantir que os ET´s vinham mesmo até cá. Vejamos o que poderia acontecer se alguém tivesse tido esta brilhante ideia...

ET 1: Gervásio, houve mais uma civilização que nos mandou uma gravação numa sonda.

ET 2: Outra ? É a terceira esta semana ! Esses seres de outros planetas não têm mais nada para fazer, caraças ?

ET 1: Este tem o som de um bebé a chorar.

ET 2: Epá, será que o bebé está sozinho em casa ? Será que tem fome ? O melhor é irmos ver o que é que se passa... Onde é que fica o planeta de onde isso veio ?

ET 1: É ali na constelação “Otários”.

ET 2: Então, vamos lá rapidamente, que eu tenho de estar em casa antes de jantar. Vamos na tua nave ou na minha ?
Ps. Será que optámos bem ao enviarmos um disco feito de ouro ? Tudo bem que é um material que resiste melhor à passagem do tempo, mas a questão é se os extraterrestres não o derreterão para fazer um colar antes sequer de o ouvirem...

22 agosto 2006

Excerto de “A Bíblia”, contado por Cervantes

Capítulo XXXVII

“Que trata do episódio em que Jesus Cristo discursou para uma multidão no topo de uma montanha, em que disse que bem-aventurados eram os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os que sofrem perseguição por causa da justiça e outros com características igualmente louváveis e do modo como a multidão muito admirou a sua doutrina e como ele depois desceu da montanha e foi seguido por todas aquelas pessoas.

Ainda aí estão ? Esqueci-me de contar alguma coisa no título ? Então, nesse caso, aproveito para dizer que este capítulo não foi escrito por mim, mas que o encontrei na mala recheada de um vendedor de livros de Toledo. E como reparei que estava em caracteres que reconheci serem arábicos e porque, embora reconhecendo-os, não os sabia ler, resolvi pedir a um mourisco que soubesse arábico mas que também falasse castelhano, que tivesse a gentileza de o traduzir. E quis a sorte que encontrasse um e que eu tivesse um papel à mão, onde escrevi este episódio, que é relatado por um dos doze escudeiros que acompanhavam esse nobre cavaleiro andante chamado Jesus Cristo, enquanto ele vagueava pela Galileia em busca de aventuras.”

Para refrescar (4)

(Foto tirada perto de Mértola)

16 agosto 2006

Um post para ler antes de morrer

Há pouco tempo, ofereceram-me um livro com o título pouco animador de “1001 filmes para ver antes de morrer”. Sou só eu que acha o título um pouco mórbido para um livro sobre cinema? É que, para além de lembrar o leitor da sua condição efémera, o livro parece estar a gozar connosco... Como se dissesse "Será que vais conseguir ver todos estes filmes antes de bateres a bota? E este “The great train robbery” de 1903, onde é que achas que alguma vez o irás desencantar, antes de partires para a terra dos pés juntos? Lê o resumo que aqui está e pronto. Pelo menos, sempre ficas com uma ideia... "

PS. Aproveito para informar que serão editados em breve “1001 livros para ler enquanto ainda vê alguma coisa” e “1001 passeios pedestres para dar antes de ficar numa cadeira de rodas ou acamado”.

Para refrescar (3)

(Mais uma foto do sul da Noruega)

15 agosto 2006

Para refrescar (2)

(Foto tirada no sul da Noruega)

13 agosto 2006

Cadernos de cinema

Luís Amado é um crítico de cinema radicado nos Estados Unidos da América que lecciona actualmente na prestigiada School of Film Studies de Nova-Iorque, sendo autor de livros como “Ozu and the poetics of cinema” (British Film Institute) e “Making meaning: Inference and Rhetoric in the Interpretation of Cinema” (Harvard University Press). Na sua passagem pela Cinemateca Portuguesa no passado dia 19 de Julho, pedimos-lhe que escrevesse um pequeno comentário sobre um filme português da sua preferência, que apresentamos em seguida.

Pequeno comentário ao filme “Non ou a vã glória de mandar” (Manoel de Oliveira)

Baseado na história de Portugal, "Non ou a Vã Glória de Mandar" recorda as batalhas travadas pelos portugueses desde o tempo de D. Afonso Henriques até à guerra colonial. O realizador adopta uma cosmovisão funcional que mina verdades auto-idênticas, subvertendo os efeitos do tempo e desafiando a lógica diacrónica a que estamos habituados. A narração desconstrutivista refere-se, portanto, a um espaço nómada (no sentido em que é usado por Deleuze), que é um ponto intermédio de lugares relevantes na História de Portugal. Entre chamas, destroços e sangue, descobrimos assim uma ligação desconexa mas intuitiva com uma identidade nacional, que resulta numa quebra emocional e psíquica colectiva, ou seja, numa cristalização de um desejo de mudança que norteia o espírito Humano...
Portanto, deixando de lado as tangas pseudo-filosóficas, curti bué do filme!
Um grande abraço!
Luís Amado.

12 agosto 2006

Para refrescar (1)

(Foto tirada no sul da Noruega)

11 agosto 2006

A namorada do enólogo

Recentemente, comecei a namorar com uma jovem do ano de 1978, que cresceu numa encosta virada a sul que fica ali para os lados de Vila Real. Esta bela donzela, que é feita a partir de excelentes castas (ou seja, gosto bastante da família dela), tem uma personalidade bastante forte que me encanta. Se tivesse de a descrever, diria que é doce, inebriante e que tem uma acidez adequada, no que diz respeito ao sentido de humor. Para além disso, é ligeiramente encorpada, leve, brilhante e cristalina, e acima de tudo, alguém de quem eu gosto muito quando está à temperatura ambiente.

Sobre acidentes com polícias

O que é que acontece quando temos um acidente com um carro da polícia ? Chama-se a polícia ou trata-se do assunto directamente com os polícias do acidente ? No meu caso, o diálogo nesta situação não seria fácil, uma vez que tendo a tratar os meus oponentes nestas discussões de trânsito por “palhaço”. Para além disso, também há a questão da honestidade dos agentes, que poderiam invocar leis do código de estrada inexistentes, de modo a não terem de assumir a culpa do acidente perante os seus colegas da esquadra. Vejamos um pequeno diálogo ilustrando o que poderia acontecer...

Eu: Não sei se reparou mas eu vinha da direita, ó palhaço... quer dizer, ó senhor agente...

Polícia: Pois... mas o senhor não conhece a nova lei da prioridade aos carros de polícia em todas as circunstâncias ?

Eu: Nunca ouvi falar disso...Quando é que entrou em vigor ?

Polícia: Foi há muito pouco tempo... Portanto, vá-se lá embora, para eu não ter de participar esta ocorrência.

Eu: Ok, obrigado, senhor agente. Já agora, onde é que eu encontro mais informações sobre essa lei ?

Polícia: Olhe que eu não sei se esta lei vai estar em vigor durante muito tempo... Aliás, esqueça isso, que estou agora a lembrar-me que o meu chefe me disse que ela vai ser abolida no fim desta semana !

Para evitar estas situações, o melhor será chamar outros polícias para tratarem do assunto, mas como é que se garante que não há uma certa “solidariedade profissional” para com os agentes envolvidos no acidente ? Talvez a solução seja telefonar para a esquadra, fazer uma descrição detalhada do que aconteceu ao telefone identificando os carros sinistrados como A e B e só depois de o agente da esquadra emitir o seu parecer sobre quem teve a culpa é que se revela a morada onde ocorreu o acidente. A questão que se põe em seguida é, se o condutor do carro da polícia tiver mesmo a culpa, como é que garantimos que não estamos marcados pela esquadra de polícia local para o resto da vida ?

06 agosto 2006

Três curiosidades sobre a guitarra portuguesa

1. Quando foi combater os Mouros para o norte de África, o Rei D. Sebastião levou uma guitarra portuguesa na bagagem, para cantar uns fadunchos à noite com os amigos;

2. Os Metallica começaram ser um quarteto de guitarras portuguesas e alguns dos seus temas mais conhecidos foram compostos usando este instrumento;

3. No programa espacial português a ter início em 2017, as primeiras missões serão realizadas por um vaivém em forma de guitarra portuguesa que se chamará “Carlos Paredes I”.

03 agosto 2006

O ecrã gigante

Na entrada de Lisboa via caos-do-túnel-do Marquês, um pouco antes do Amoreiras, existe um ecrã gigante para os condutores ficarem a par das notícias mais recentes e para aumentar a probabilidade de participarem em acidentes de viação. Percebe-se que tal aconteça, uma vez que temos uma reputação a manter como país com alta sinistralidade viária. Mas porque não diversificar os métodos usados, espalhando de vez em quando algum óleo na estrada ou contratando modelos para posarem em roupa interior à beira daquela estrada ?

Fragmentos da vida de Jesus Cristo (3)

Moisés: Boa tarde. Tu é que és Jesus de Nazaré ?

Jesus: Tu o disseste.

Moisés: Muito prazer. O meu nome é Moisés. Arnaldo Moisés !

Jesus: O editor do Antigo Testamento ?

Moisés: Isso mesmo... Já leste o livro ?

Jesus: Estás a brincar ? Já o li algumas quinhentas vezes ! Adoro o texto do Génesis. E o livro de Job, o Levítico, os Salmos, aquela parte sobre o desaparecimento do elefante...

Moisés: Qual desaparecimento do elefante ?

Jesus : Se calhar, estou a confundir com outro livro. De qualquer modo, o Antigo Testamento é um dos meus livros preferidos.

Moisés: Ainda bem que gostas dele, porque eu queria falar-te sobre a tua participação numa nova edição...

Jesus: Ai, sim ?

Moisés: É verdade. O Antigo Testamento é um osso um bocado duro de roer, com aquelas máximas estilo “Olho por olho, dente por dente” e nós queríamos um Novo Testamento para acompanhar esta edição, que fosse mais levezinho. E como as tuas ideias têm tido bastante sucesso...

Jesus: Agradeço o convite, mas não estou interessado...

Moisés: Porquê ?

Jesus: Não tenho tempo para isso, amigo. A minha vida é muito agitada e se me ponho a escrever um livro, então é que deixo de ter tempo para as minhas coisas... É importante poder largar o trabalho de Messias ao fim-de-semana e ir descontrair para umas termas ou assim.

Moisés: Então e se eu falar com um dos apóstolos ?

Jesus: Pode ser que eles estejam interessados. E até talvez fosse engraçado pedir a mais do que um para escrever sobre a minha vida, de modo a contar a mesma história de várias perspectivas...

Moisés: Grande ideia ! Onde é que eu os posso encontrar ?

Jesus: Aparece amanhã no restaurante “A última ceia”, que nós vamos fazer um jantar por lá.

Moisés: Lá estarei. Então, até amanhã !

Jesus: Vai em paz, irmão...

Moisés: Irmão ? Sabes alguma coisa sobre os meus pais que eu não saiba ?

Jesus: Não, é só uma expressão que eu costumo usar...

Moisés: Ah, bom, estava a ver que íamos ter problemas...