05 março 2009

No campo de tiro de Alcochete

O cenário é o seguinte: sendo biólogo e tendo sido contratado para inventariar os mamíferos numa área que inclui o campo de tiro de Alcochete (área proposta para o novo aeroporto de Lisboa), eis que chego à porta de armas do referido "recreio da força aérea" e me preparo para receber uma série de ordens sobre o que posso ou não fazer.
Na realidade, as coisas passaram-se de modo bastante diverso das minhas expectativas: os dois militares que me indicaram as áreas de risco a evitar naquele dia apenas me pediram para assinar um termo de responsabilidade em como eu tinha recebido aquela informação. "Então e o que é que acontece se eu for acidentalmente para essas áreas de risco?", perguntei antes de sair. A resposta foi que poderia transformar-me num alvo móvel dos pilotos que faziam tiro ao alvo nesse dia. Mas essa decisão de participar activamente nos treinos dos F16, de averiguar sobre o seu poder de fogo e precisão, competia-me apenas a mim: tinha a liberdade de escolher o que me apetecia fazer. E eu a pensar que os militares só sabiam dar ordens...

01 março 2009

A minha relação com a lixívia

À falta de um tema mais interessante e menos prosaico, eis a história da minha relação com a lixívia. Quando iniciei a minha carreira de fada-do-lar, tinha uma grande admiração por ela, usando-a constantemente como a varinha de condão que deixava tudo braquinho e desinfectado. Apesar de concordar com as críticas de outros que a consideravam muito agressiva, defendia-a com unhas e dentes, dizendo que era graças a ela que podia manter um regime de pouco esforço na lida da casa. Até que estraguei umas calças de fato-de-treino e uma t-shirt por causa de uns salpicos...
Desiludido com a minha dedicada mas corrosiva amiga, adoptei medidas drásticas: antes de a manusear, punha-me em cuecas. Mas quando apareceram umas pintinhas brancas no tapete da casa-de-banho, decidi que ela era lixivia non grata. Antes de sair porta fora para nunca mais voltar, ela disse-me na cara que tinha percebido que a tinha trocado pela lixívia delicada. E era verdade: antes de tomar a decisão, já eu andava enrolado com a lixívia delicada, com quem mantive uma relação estável durante mais de um ano. Só que sentia que faltava alguma coisa a este romance tépido... É que a delicada era, por vezes, demasiado delicada. Não havia aquele fogo, aquela paixão, aquele ardor que existia na relação anterior. E foi assim que dei por mim a fazer olhinhos à lixívia normal no supermercado, até que um dia não resisti a trazê-la para casa para consumar esse amor. Claro que continuamos a ter problemas e temos de trabalhar continuamente na nossa relação, para que as coisas resultem entre nós. Mas não será destino da espécie humana uma eterna insatisfação com a lixívia que usamos e a ambição por um mundo melhor onde pessoas e produtos de limpeza e desinfecção possam viver em paz e harmonia?