29 setembro 2008

A terra e o homem

A terra
“Durante a última glaciação, o topo desta colina da cidade onde cresci era usado como ponto de observação por caçadores de mamutes, que usavam casacos feitos do pêlo desses grandes paquidermes lanudos. Quando os glaciares derreteram, a água do degelo formou um rio que passava no sopé desta colina, onde muitas gerações de agricultores viveram com abundância de favas, ervilhas, trigo e leite, queijo e carne de cabra. Depois da invasão dos Romanos, instalaram-se aqui muitos pescadores que viviam da salga do peixe e foram eles que construíram uma muralha para os proteger de outros invasores. A seguir, vieram os Germanos, que arrasaram as salgas e os casebres dos pescadores e, quando os Cristãos conquistaram a cidade, reforçaram a muralha construída para a defender e esta colina foi doada a um nobre que lutou ao lado do Rei. Já no século XVI, foi comprada por monges, que aqui construíram um mosteiro que serviu de refúgio aos feridos e desalojados do terramoto de 1755. No século XIX, os monges abandonaram o mosteiro e o Rei ordenou que o edifício fosse convertido num hospital. Em 1973, dois anos depois de eu ter nascido, a minha mãe arranjou emprego como enfermeira nesse hospital e, por isso, comprámos aqui uma casa.
O homem

“Como a minha mãe engravidou acidentalmente de mim quando ainda estava a terminar a Universidade e o meu pai ganhava pouco, tenho recordações de infância de Invernos frios, em que a minha mãe me vestia com casacos de lã por não ter dinheiro para comprar um aquecedor. Depois, os meus pais montaram o seu próprio consultório de enfermagem e nós passámos a viver com mais recursos. Na adolescência, tinha conflitos constantes com o meu pai e, por isso, resolvi estudar numa faculdade que ficasse longe de casa, para criar uma barreira que me protegesse das suas agressões. Durante o último ano na faculdade de Medicina, conheci uma estudante Alemã por quem me apaixonei e com quem namorei durante uns anos. Quando ela regressou à Alemanha, fiquei completamente devastado e reforçei a barreira que construi originalmente para me proteger do meu pai. Depois disso, encontrei emprego no hospital onde os meus pais trabalharam em tempos e investi toda a minha energia a cuidar dos doentes. Como passava muito tempo no hospital, comecei a falar com uma pediatra, com quem vivo actualmente e que transporta o nosso filho no seu ventre. Actualmente, procuramos uma casa na encosta onde eu cresci e que serviu de cenário a tantos episódios da minha vida...”

23 setembro 2008

Poema de Bin Laden

Segundo o site do jornal Público, alguns dos poemas de Bin Laden serão editados em breve nos EUA. Aqui fica um desses poemas:

Poema de amor

Fui ver o pôr-do-sol
As ondas do mar
Fui e encontrei
Em cores de arco-íris
O teu amor
Com que sonhei

Mas nem isso me fez esquecer
esses estúpidos desses Americanos
não saiam do Iraque, não
e depois venham-se queixar
que a vida vos corre mal...

Notícia de choque entre dois planetas

Na edição do “Jornal de Notícias” de ontem, é referido que um grupo de astrónomos norte-americanos descobriu evidências de um choque entre dois planetas, que ocorreu há cerca de 300 milhões de anos na constelação de Aires.

Em primeiro lugar, será legítimo publicar num jornal diário a notícia de algo que aconteceu há 300 milhões de anos, numa constelação que está a 300 milhões de anos-luz de nós? É certo que vivemos na era da globalização, mas isto não será um pouco demais? Se o editor teve um impulso irresistível de noticiar algo tão desactualizado como um evento do final do Paleozóico, porque não anunciar que, há 300 milhões de anos, as pequenas plantas vasculares e não vasculares do nosso planeta deram lugar às primeiras florestas? Sempre nos dizia mais respeito...

Em relação à notícia propriamente dita, já tinha ouvido falar de choques entre estrelas (especialmente, quando não conseguem decidir em que país africano vão adoptar o seu próximo filho), mas nunca de uma colisão entre dois planetas. Qual será o equivalente terrestre a este evento? O choque entre dois norte-americanos à porta de um “restaurante” de fast-food? Por outro lado, é curioso verificar que os astrónomos não viram a colisão a acontecer, mas que depreendem que tenha acontecido pela quantidade enorme de poeira nesse Sistema Solar. Quererá isto dizer que, de cada vez que temos um rally de Portugal, os ET´s de outras galáxias depreendem que ocorreu um choque entre dois planetas do nosso Sistema Solar? E ainda bem que esta descoberta não foi feita por astrónomos portugueses: ficar a olhar para poeira cósmica após um acidente, sem poder ver os estragos causados pela colisão ou apurar qual dos planetas teve a culpa é um golpe duro para qualquer português, seja ele cientista ou não...

17 setembro 2008

Novo Aeroporto de Lisboa- a história por detrás da decisão de Alcochete

(José Sócrates e Fernanda, vestidos a rigor, conversam numa sala do Palácio de S. Bento)

Fernanda: (carinhosa) Vamos dar-lhe mais uns minutos. Pode ser, Pioquinhas?

Sócrates: (carinhoso) Pode, minha coisinha fofa!

(Cavaco Silva e Maria aproximam-se)

Cavaco: Então, e a vossa amiga?

Sócrates: Está a chegar, senhor Presidente. De qualquer modo, eu vou dar ordem para começarem a servir o jantar. Afinal de contas, não se faz esperar o Presidente, a Primeira Dama e o Primeiro-Ministro... (risos)

(Fernanda olha séria para Sócrates)

Maria: E a namorada do Primeiro-Ministro!

Sócrates: Pois... A namorada do Primeiro-Ministro também não...

Cavaco: Vamos ali falar à Ferreira Leite, que eu tenho umas coisas para lhe dizer... Com licença.

(Cavaco e Maria afastam-se)

Fernanda: Já viste bem o que disseste, Zé...

Sócrates: O quê?

Fernanda: Que não se faz esperar o Presidente, a Primeira Dama e o Primeiro Ministro. E eu, não existo? Não tenho importância?

Sócrates: Querida, não sejas assim.
Fernanda: É sempre a mesma história! Só porque não somos casados, toda a gente finge que não me vê. E tu também não, pelos vistos!
Sócrates: Isso é um discurso demagógico que em nada ajuda o País... quer dizer, a nossa relação.

Fernanda: Bem, nós falamos em casa... E, se calhar, hoje à noite, não há nada para ninguém.
Sócrates: Ai sim? Então, também acabei de decidir que o novo aeroporto já não vai para a Ota. Vai antes para Alcochete... Portanto, podes dizer ao teu pai que os terrenos que ele andou a comprar não vão valer nada!
Fernanda: Conversa! Daqui a uns dias, já mudaste de ideias.
Sócrates: Então, veremos, se mudo de ideias!

15 setembro 2008

Venha de lá essa overdose de tomate...

Este fim-de-semana, cumpri mais uma vez o ritual de ajudar os meus pais na vindima da sua pequena quinta. Em vez de me recompensarem pelo meu esforço, estes progenitores perversos resolveram castigar-me com quilos e quilos de tomate maduro, prontos a apodrecerem ao mínimo descuido. Sim, eu sei que podia congelá-los, mas o meu congelador não é muito grande e tem mais coisas que a mala do Sport Billy. E também podia fazer polpa de tomate, mas não tenho paciência para isso. Assim sendo, aqui fica uma previsão da ementa em minha casa nos próximos dias:
-Sopa de tomate
-Arroz de tomate com estufado de legumes (sobretudo tomate) ou tomatada com ovos escalfados e uma salada de alface. E tomate. Acompanha com sumo de tomate.
-Tomate doce assado, mousse de tomate ou gelado de tomate.
-Café com bolinhos de tomate.
ps. alguém conhece empresas do ramo alimentar interessadas em financiar um estudo sobre os efeitos do excesso de tomate no organismo humano?

06 setembro 2008

Pesadelo típico de véspera de consulta de dentista

(Bruno está num centro de inspecções de carros, sentado numa cadeira de dentista com um tubo na boca; dentista vestido de inspector espreita com interesse para dentro da boca de Bruno)
Dentista: Eeeeeena pá, como isto está! Há mais cáries do que dentes! (rindo-se) Se calhar, vamos ter de declarar a sua boca uma área de calamidade nacional... Eu já volto!
(Dentista sai, Bruno tenta detectar buracos nos dentes com os dedos e Dentista regressa com Outro dentista)
Dentista: (para Bruno) Abra a boca, por favor! (apontando para dente) Olha só... Esta cárie começa aqui, vai ao pré-molar, passa para o molar e ainda vai ao siso!
Outro dentista: Meu Deus! Nunca vi nada assim... Não é melhor tirar umas fotos, para o congresso de Barcelona?
Dentista: Sim, tens razão... (para Bruno) Ó senhor Bruno, importa-se que tiremos umas fotos? Eu faço-lhe um pequeno desconto no tratamento, o que é que diz?
Bruno: Ok. Tugo gueeenn... (tradução: Ok. Tudo bem...)
(Dentista vai buscar a máquina fotográfica; Outro dentista continua a examinar os dentes de Bruno)
Outro dentista: Olha, ele também tem aqui umas grandes cáries no maxilar inferior.
Bruno: Chão grandx? (tradução: São grandes?)
Outro dentista: Enormes! Não sei se não é preferível arrancar os dentes todos e pôr uma placa! (rindo-se) Estou a brincar consigo...
Dentista: Não ligue, nós gostamos de brincar com os pacientes...
Bruno: (tirando o tubo da boca) Pois, eu estou farto de me rir... Então, mas o tratamento vai ser caro?
(Dentista empunhando máquina prepara-se para tirar fotos)
Dentista: Abra bem a boca, olhó passarinho! (tira fotos) Mesmo com o desconto, vão ser uns 350 euros, pelo menos. E vamos ver se ainda conseguimos salvar aqui um dente, que está mesmo a dar as últimas!
Bruno: Ó doutor, mas então, vamos fazer o tratamento dente a dente, para eu poder pagá-lo mais facilmente...
Dentista: Senhor Bruno, agora fora de brincadeiras, você tem uma boca com várias deficiências do tipo 3. Sabe o que isso significa?
Bruno: Não...
Dentista: Significa que tem deficiências muito graves que implicam a paralisação da boca ou a permissão da sua deslocação apenas até ao local de reparação. Ou seja, temos de fazer uma reparação extensiva, antes de poder voltar a circular.
Bruno: Mas eu só lhe posso dar aí uns 100 euros...
Dentista: Não há problema. Deixa os 100 euros, o casaco, os óculos escuros e o telemóvel e paga o resto para o próximo mês. Bem, e agora, ponha lá o tubo na boca, que vai começar a festa...
Outro dentista: Eu vou buscar um escopro e um martelo, pode ser que seja preciso!
(Dentista prepara uma grande broca, Bruno desmaia e Dentista abana-o, para o acordar; é neste ponto que o sonho acaba e eu acordo com a boca aberta)

03 setembro 2008

Dádiva de sangue

Ontem de manhã, acordei com a sensação de ter demasiado sangue a correr-me nas veias e, por isso, fui partilhar algum do meu precioso líquido azul (o meu tio é o “Rei dos Frangos” de Xabregas) com outras pessoas que também precisam dele. Tal como é habitual, pediram-me que preenchesse um inquérito e que falasse com um médico, antes de decidirem se me concediam o privilégio de me espetar uma agulha do tamanho da torre Eiffel no braço, através da qual me extrairiam cerca de meio litro de sangue...

Por muita consideração que tenha pelos profissionais do Instituto Português de Sangue, moderna raça de vampiros que solicitam sangue por sms e que resistem à luz do sol e a crucifixos, algumas das suas perguntas parecem-me um bocado estranhas. Por exemplo, não percebo porque me perguntaram “Nos últimos seis meses, teve novo (a) parceiro (a) sexual?”. Será que a qualidade do sangue diminui drasticamente quando temos um novo parceiro sexual e que, ao sétimo mês da relação, volta tudo ao normal? Outra pergunta cuja intenção não percebi foi “Alguma vez teve contactos sexuais homossexuais ou com prostitutas?”. Nunca ouvi falar de uma incompatibilidade sanguínea entre sangue homossexual e sangue heterossexual. O que é acontecerá quando os dois se encontram no mesmo corpo, uma embolia ou coisa do género? E se for sangue bissexual, existe o mesmo problema? E o que acontece quando recebemos sangue de um homem que teve relações sexuais com uma prostituta, também ficamos com vontade de "sexo ilegal"?
Enfim, o sangue tem muito que se lhe diga e é natural que um leigo como eu não perceba onde eles querem chegar. Na minha ignorância, estava convencido que, se o sangue é analisado para despistar todas as doenças possíveis e imaginárias, não importava se é de alguém que tem um novo parceiro sexual há menos de seis meses, que teve ou tem relações homossexuais ou que teve ou tem sexo com prostitutas... Mas mesmo que importe, talvez valha a pena ponderar sobre a existência de um conceito relativamente novo que se designa por "mentir". É que, parecendo que não, pode acontecer que os candidatos a dadores o apliquem...